Um dia memorável que emocionou, educou e renovou as forças de quem busca uma sociedade mais justa e inclusiva para as pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e outras condições específicas.

O 2º Seminário para conscientização sobre o autismo com foco na valorização das capacidades abordou avanços e desafios na Educação e Segurança Pública e os caminhos que precisam ser construídos para transformar a realidade das famílias com filhos autistas. O evento foi realizado na sexta-feira (12), na Assembleia Legislativa.

“Como estamos no abril azul, mês dedicado à conscientização sobre o autismo, apoiamos esse seminário pois é preciso trazer mais conhecimento de como lidar com as pessoas nessa condição, tanto dentro das forças de Segurança Pública quanto na Educação”, disse Wanderley Alves, presidente do SINPRF/MS (Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais de MS).

Os debates foram mediados pelo diretor do SinPRF/MS, Alexandre Figueiredo, que é um dos idealizadores dos projetos PRF Amiga do Autista, Guardião Azul e MOAB – Movimento Orgulho Autista do Brasil, e Dra. Raissa Duailibi, da Comissão de Defesa do Direito da Pessoa com Autismo da OAB/MS.

O evento reuniu famílias com crianças autistas, autoridades, forças policiais e representantes de entidades que prestam assistência às pessoas com deficiência. A presidente da Associação das Pessoas com Deficiência de Chapadão do Sul, Osineia da Silva, que é também coordenadora do MOAB no município, viajou mais de 300 km para acompanhar as discussões do seminário.

“É difícil no interior porque a informação chega depois, mesmo com o acesso à internet. E muitas vezes não chega para as famílias, que estão fragilizadas. Esse é um evento necessário, o conhecimento que adquirimos aqui vamos levar para as famílias. Nossa intenção é continuar contribuindo para a inclusão das pessoas com autismo”, afirmou.

Educação

Na primeira parte, foram debatidos temas voltados à educação inclusiva. Na palestra “Perspectivas Educacionais da inclusão do Estudante com Transtorno do Espectro Autista na legislação vigente”, o Prof. Me. Diniz da Cunha Silveira falou sobre a necessidade de preparação dos professores de apoio e apresentou exemplos de acolhimento em sala de aula.

“Não posso fazer uma atividade para o estudante antes de incluí-lo, ele precisa ser incluído na turma, aí começo a fazer as atividades que, dependendo do cognitivo dele, podem ter adaptações ou não. Às vezes somente um acompanhamento já facilita para que ele tenha autonomia, consiga viver sozinho e entender todo o contexto de uma sociedade”, pontuou.

 

Na palestra “Educação Transformadora: Empatia, Cultura de Pais e Abordagem Colaborativa”, o Prof. Dr. Geraldo Peçanha de Almeida emocionou os presentes ao trazer o relato pessoal dos desafios na educação do filho adotivo Mateus e destacou a importância do apoio das instituições jurídicas, religiosas e públicas de modo geral no esclarecimento e fortalecimento das famílias com filhos autistas.

“Quando toda a sociedade trabalhar com esta família no esclarecimento e no empoderamento, é este núcleo, é esta célula familiar que irá se transformar num grande centro terapêutico para um autista, que não vai durar 40 minutos, nem 1h, mas a vida inteira”, ressaltou.

 

A médica Josiane Gaona tem um filho autista com 5 anos e foi uma das pessoas que ficou emocionada durante a palestra. “Superou as minhas expectativas. As discussões nos estimulam a pensar no que estamos fazendo, porque é fácil cobrar dos outros, o que a escola tem que fazer, o que a lei tem que amparar, mas é difícil você avaliar as suas próprias atitudes. [...] Como família, a gente às vezes questiona porque temos um filho autista e, no caso, ele escolheu ser pai de autista. É algo muito bonito”, afirmou.

Segurança pública

Na segunda parte do evento, o diretor do Departamento de Segurança Institucional do Poder Judiciário, Igor Tobias Mariano, fez uma apresentação do projeto de segurança no atendimento aos autistas no poder judiciário, incluindo o CNJ e todos os tribunais do país.

“É uma desconstrução, o profissional precisa se desconstruir das formações tradicionais. [...] Conhecer o autismo é um processo progressivo, a gente nunca sabe tudo, tem que continuar estudando, para tratar essas pessoas da forma mais digna e respeitosa possível”, afirmou.

 

Em seguida, o diretor do SinPRF/MS, Alexandre Figueiredo, falou sobre as ações do projeto “PRF Amiga dos Autistas”. “A nossa intenção é começar a discutir, através do autismo, toda neurodiversidade, todas as deficiências não visíveis e melhorar nosso protocolo de atuação”, explicou.

O tenente do Corpo de Bombeiros, Max Souza Tosta, abordou os protocolos de contenção de pessoas com autismo em situação de emergências, sinais de alerta, fatores que precisam ser analisados, entre outros pontos.

“Como segurança pública, somos moldados a agir de forma rápida, até mesmo porque temos outras ocorrências para atender. Mas quando estamos falando de pessoas com deficiência, precisamos compreender que é uma peculiaridade que vai exigir mais tempo de atendimento, vamos precisar agir diferente. Os protocolos tradicionais não dão certo, vamos precisar fazer adaptações, agir de forma humanizada e com paciência”, destacou.

 

Entre as forças de segurança presentes, o evento contou com a participação dos guardas municipais e do subcomandante da corporação, Alexandre Pedroso. “A gente trabalha nas escolas, praças, unidades de saúde, estamos mais próximos da comunidade, podemos encontrar uma pessoa em crise, como vamos atuar nessa situação? Então a intenção é absorver um pouco desse conhecimento para prestar um atendimento mais humano, com empatia e cuidado”, avaliou.

 

Para a neuropediatra Maria Eulina, a ideia de segurança pública inclusiva representa uma mudança de estrutura na sociedade. “Quando tem um adesivo no carro indicando que ali dentro tem uma pessoa dentro do espectro autista, a abordagem será diferenciada. Essa mudança de comportamento – que ainda vai precisar de um tempo para se consolidar – é muito importante e vai se refletir em toda a sociedade”.

O evento foi organizado pelos projetos Guardião Azul – Amigo do Autista, MOAB (Movimento Orgulho Autista do Brasil) e pela Comissão de Defesa do Direito da Pessoa com Autismo da OAB/MS, com apoio da Assembleia Legislativa de MS, do Dep. Paulo Correa e patrocínio do Conseg, Energisa, Escola do Legislativo, Inpasa, PRF Amiga do Autista, OAB/MS, Pro D TEA, Sinergia-MS, Sinsemp-MS, SINPRF/MS, Ver. Prof Juari.

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Texto e fotos: Ascom SinPRF